sexta-feira, 24 de abril de 2020

PÁSCOA: MEMÓRIA, PROFECIA E LIBERTAÇÃO!


Pe. José Geraldo de Souza, C.Ss.R. (Reitor)

Somos curiosos diante do mistério pascal e queremos entender melhor o que aconteceu com o Povo Hebreu, do qual Jesus de Nazaré fazia parte. A palavra Páscoa em hebraico, “passach”, significa passagem da escravidão para a liberdade, da morte para a vida. Quais foram essas passagens na história?  Esse povo foi libertado por Moisés dos Egípcios, construtores de pirâmides, e que se consideravam deuses, depois de 400 anos de escravidão dos hebreus, com saída tumultuada e ceia apressada caminhou pelo deserto até a Terra Prometida, onde correria leite e mel (Ex 12).  
Trata-se, portanto, de uma refeição feita em pé, com os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão (Ex 27,12). O sangue do Cordeiro imolado marcou os umbrais das portas dos que seriam salvos do anjo exterminador e as ervas amargas lembraram o sofrimento no Egito. Tal libertação é o acontecimento mais importante na história dos hebreus. A Páscoa esteve também ligada à festa dos pastores, onde se comemorava a passagem do inverno para a primavera, com a explosão de vida.
Jesus, filho de Maria e José, conheceu e vivenciou anualmente a Páscoa judaica, tendo o mesmo frequentado o templo e as sinagogas. Ele não tinha intenção de se opor ao judaísmo ou sistema político, mas resgatava a essência desses dois núcleos corrompidos na relação das pessoas com Deus e delas entre si. Jesus criticou firmemente o dualismo nas escolas religiosas, entre elas, a Escola dos Fariseus.
Jesus é o verdadeiro Messias e Libertador, aquele que fora anunciado pelos profetas, Ungido de Deus, descendente da tribo de Davi, grande Rei, que convivia com os pecadores e pobres. Ele anunciava o Reino com ênfase “na misericórdia e não nos sacrifícios e holocaustos”, em oposição à noção de favores e merecimentos (Mt 9, 13).
Nesse contexto religioso e político houve muitas incompreensões sobre essa figura messiânica, que às vezes era confundida com o messianismo político (líder ideológico) ou taumaturgo religioso (milagreiro). Após a sua morte e ressurreição, nas primeiras comunidades os apóstolos e seus seguidores se perguntavam: Por que Jesus havia morrido? Nas reuniões que ocorriam aos domingos em memória a sua pessoa e a Páscoa, os apóstolos promoviam a fração do pão e da caridade, recordando tudo o que Ele fez e ensinou com pregações destemidas, em torno de sua morte, paixão e ressurreição.
A Ressurreição de Jesus, portanto, é um fato apenas compreensível à luz da fé, pois a nova vida não foi presenciada por ninguém e o que as mulheres viram, segundo os evangelhos sinóticos, foram apenas os “sinais” da ressurreição, ou seja, o túmulo vazio, os panos dobrados e colocados de lado, além de um personagem que dialogava com Maria Madalena, confundido por ela com o jardineiro, o qual anunciou que Jesus não estava mais entre os mortos, porque havia ressuscitado e estava vivo.
Consequentemente, por detrás dessa linguagem de ressurreição na ótica do Pe. José Antonio Pagola, teólogo, existe um impacto incalculável na vida dos seus seguidores sobre o fato de Jesus ter sido “executado”, frente aos esquemas mentais e religiosos vigentes. Prevalece, assim, nas Comunidades Primitivas as fórmulas cristológicas de um Deus que “o exaltou”, “o elevou” a sua glória, “sentou-o” à direita de seu trono e “o constituiu como Senhor”, porque defende a justiça e vida abundantemente. Logo, ressuscitar aqui não é uma volta à vida biológica anterior, mas diz respeito a uma vida totalmente libertada da morte e do mal, onde as situações de medos e trevas não têm nenhum poder sobre a existência humana.
Por fim, ressuscitar já é ser exaltado, ou seja, introduzido na vida plena do próprio Deus. Ser exaltado é também ressuscitar, por ter sido arrancado do poder da morte. Significa, também, para os discípulos um convite à intimidade profunda com esse núcleo vital e fundamental da fé que dá ressignificado a toda existência humana e missão eclesial. Eis nosso maior desafio pascal, que é transformar o mundo, através da libertação dos pobres de suas situações de vulnerabilidades e opressões, atentos a CF/20 para a promoção da vida digna e justa, porque “não existe democracia com fome, não existe desenvolvimento com pobreza e não existe justiça com iniquidade”.

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