sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

TEXTO SOBRE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE/2020


VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE
(LC 10, 33-34)
Já enfrentamos juntos discussões espinhosas em torno da família, drogas, saúde, violência, trabalho, moradia, educação e trabalho, ao longo das várias campanhas de fraternidade. Já neste ano olharemos a vida que emerge no cotidiano, enquanto clamor dos corações feridos e criação espoliada pela ambição exagerada do lucro (Laudato Si, N0 53).
Olhemos de outro foco essa parábola que vem carregada de pormenores e originalidades. Esse exercício bíblico ajuda-nos a quebrar a prepotência humana que cheira, no dizer do Papa Francisco em sua Encíclica “Gaudete et Esxutate”, o “neopelaginismo”, onde as pessoas tentam se salvar com seus próprios méritos, mas sem Deus ou o “neognosticismo”, voltado para uma religião de pura estética que ignora o sofrimento e a cruz, para pregar apenas o belo e artístico.
Parece-me que as pessoas precisam chamar de fora o valor que não existe dentro delas, apegando-se as exterioridades. Aquela pessoa cheia de lei estava vazia no seu interior. Eis aqui a grande lição da CF/20, inspirada no Samaritano cheio de compaixão.  Santa Dulce dos Pobres, Zilda Arns e São Geraldo são os samaritanos de hoje nos altares das igrejas. Achamos que o grande mérito é do Samaritano chamado de bom. Mas, será mesmo?  Não! Citamos, inclusive, os comportamentos dos outros personagens. O centro dessa parábola, evidentemente, é a vítima caída, judiada, espancada e machucada, expressão de tantos excluídos e ignorados pelo sistema vigente, que transformou a vida de um dos três personagens. O Levita e Sacerdote não se salvaram, porque foram incapazes de sentir a compaixão nas mãos e a justiça bater no coração.  O Samaritano deixou-se salvar pela vítima, que o salvou.
A salvação está fora de nós. Toda essa linha de auto-ajuda ou psicologismo não salvam, porque é a própria pessoa tentando responder às suas angustias e inquietações, ao invés de deixar seu coração aquietar-se em Deus, fora dela, que oferece a salvação. A pobre vítima clamou ao Sacerdote, para que saísse da consciência do dever cumprido. Recusou-se ir além do culto. Escolheu o outro lado, que é o lado da perdição. A vítima aqui simboliza o diferente e imprevisível que cruza nossos caminhos no dia a dia, diante da qual recusamos a curvar-se por falta de humildade e compaixão. E o Levita, apegado a Talmud, passou perto da vítima que queria convertê-lo, mas ele se recusou a converter-se. 
O último a passar foi o mais simples dos três, o Samaritano, que viu acordar dentro de si o maior de todos os tesouros da humanidade. O Levita e o Sacerdote também tinham esse tesouro, mas guardaram todo para si. Esse tesouro que o samaritano soube partilhar, mas nem sempre conseguimos despertar no outro, tem seus mistérios e enigmas. O bem mais precioso que o Samaritano trazia e não perdeu era a compaixão, juntamente com um pouco de azeite, vinho e duas moedas de prata. Ele viu e sentiu compaixão. Ele viu a vítima e se aproximou, tornou-se próximo.
Conclui-se que precisamos nos aproximar mais das pessoas e do meio ambiente, descendo do pedestal que estamos para interagir com as coisas e pessoas, no cuidado da casa comum e defesa da vida. Precisamos aprender, também, a conviver com pessoas que pensam diferente de nós, porque bons samaritanos estão em todos os lugares. E um último aspecto bonito que sobra na vida do samaritano e também de Jesus é que eles dizem que vão voltar de novo e se tiverem dívidas na hospedaria serão pagas. Jesus sempre volta, nunca nos abandona.
Pe. José Geraldo de Souza, C.Ss.R. (Reitor)

Nenhum comentário:

Postar um comentário