Pe. José Geraldo
de Souza, C.Ss.R. (Reitor)
Somos curiosos diante do mistério pascal e
queremos entender melhor o que aconteceu com o Povo Hebreu, do qual Jesus de
Nazaré fazia parte. A palavra Páscoa em hebraico, “passach”,
significa passagem da escravidão para a liberdade, da morte para a vida. Quais foram
essas passagens na história? Esse povo foi
libertado por Moisés dos Egípcios, construtores de pirâmides, e que se
consideravam deuses, depois de 400 anos de escravidão dos hebreus, com saída
tumultuada e ceia apressada caminhou pelo deserto até a Terra Prometida, onde
correria leite e mel (Ex 12).
Trata-se, portanto, de uma refeição feita
em pé, com os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão (Ex 27,12). O
sangue do Cordeiro imolado marcou os umbrais das portas dos que seriam salvos
do anjo exterminador e as ervas amargas lembraram o sofrimento no Egito. Tal
libertação é o acontecimento mais importante na história dos hebreus. A Páscoa esteve
também ligada à festa dos pastores, onde se comemorava a passagem do inverno
para a primavera, com a explosão de vida.
Jesus, filho de Maria e José, conheceu e
vivenciou anualmente a Páscoa judaica, tendo o mesmo frequentado o templo e as
sinagogas. Ele não tinha intenção de se opor ao judaísmo ou sistema político,
mas resgatava a essência desses dois núcleos corrompidos na relação das pessoas
com Deus e delas entre si. Jesus criticou firmemente o dualismo nas escolas
religiosas, entre elas, a Escola dos Fariseus.
Jesus é o verdadeiro Messias e Libertador,
aquele que fora anunciado pelos profetas, Ungido de Deus, descendente da tribo
de Davi, grande Rei, que convivia com os pecadores e pobres. Ele anunciava o
Reino com ênfase “na misericórdia e não nos sacrifícios e holocaustos”, em
oposição à noção de favores e merecimentos (Mt 9, 13).
Nesse contexto religioso e político houve
muitas incompreensões sobre essa figura messiânica, que às vezes era confundida
com o messianismo político (líder ideológico) ou taumaturgo religioso
(milagreiro). Após a sua morte e ressurreição, nas primeiras comunidades os
apóstolos e seus seguidores se perguntavam: Por que Jesus havia morrido? Nas
reuniões que ocorriam aos domingos em memória a sua pessoa e a Páscoa, os
apóstolos promoviam a fração do pão e da caridade, recordando tudo o que Ele
fez e ensinou com pregações destemidas, em torno de sua morte, paixão e
ressurreição.
A Ressurreição de Jesus, portanto, é um
fato apenas compreensível à luz da fé, pois a nova vida não foi presenciada por
ninguém e o que as mulheres viram, segundo os evangelhos sinóticos, foram apenas
os “sinais” da ressurreição, ou seja, o túmulo vazio, os panos dobrados
e colocados de lado, além de um personagem que dialogava com Maria Madalena,
confundido por ela com o jardineiro, o qual anunciou que Jesus não estava mais
entre os mortos, porque havia ressuscitado e estava vivo.
Consequentemente, por detrás dessa
linguagem de ressurreição na ótica do Pe. José Antonio Pagola, teólogo, existe
um impacto incalculável na vida dos seus seguidores sobre o fato de Jesus ter
sido “executado”, frente aos esquemas mentais e religiosos vigentes. Prevalece,
assim, nas Comunidades Primitivas as fórmulas cristológicas de um Deus que “o
exaltou”, “o elevou” a sua glória, “sentou-o” à direita de
seu trono e “o constituiu como Senhor”, porque defende a justiça e vida
abundantemente. Logo, ressuscitar aqui não é uma volta à vida biológica
anterior, mas diz respeito a uma vida totalmente libertada da morte e do mal,
onde as situações de medos e trevas não têm nenhum poder sobre a existência
humana.
Por fim, ressuscitar já é ser exaltado, ou
seja, introduzido na vida plena do próprio Deus. Ser exaltado é também ressuscitar, por ter sido
arrancado do poder da morte. Significa,
também, para os discípulos um convite à intimidade profunda com esse núcleo
vital e fundamental da fé que dá ressignificado a toda existência humana e
missão eclesial. Eis nosso maior desafio pascal, que é transformar o mundo,
através da libertação dos pobres de suas situações de vulnerabilidades e
opressões, atentos a CF/20 para a promoção da vida digna e justa, porque “não
existe democracia com fome, não existe desenvolvimento com pobreza e não existe
justiça com iniquidade”.
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