VIU, SENTIU
COMPAIXÃO E CUIDOU DELE
(LC 10, 33-34)
Já enfrentamos juntos discussões
espinhosas em torno da família, drogas, saúde, violência, trabalho, moradia,
educação e trabalho, ao longo das várias campanhas de fraternidade. Já neste
ano olharemos a vida que emerge no cotidiano, enquanto clamor dos corações
feridos e criação espoliada pela ambição exagerada do lucro (Laudato Si, N0
53).
Olhemos
de outro foco essa parábola que vem carregada de pormenores e originalidades.
Esse exercício bíblico ajuda-nos a quebrar a prepotência humana que cheira, no
dizer do Papa Francisco em sua Encíclica “Gaudete et Esxutate”, o “neopelaginismo”,
onde as pessoas tentam se salvar com seus próprios méritos, mas sem Deus ou o “neognosticismo”,
voltado para uma religião de pura estética que ignora o sofrimento e a cruz,
para pregar apenas o belo e artístico.
Parece-me
que as pessoas precisam chamar de fora o valor que não existe dentro delas,
apegando-se as exterioridades. Aquela pessoa cheia de lei estava vazia no seu
interior. Eis aqui a grande lição da CF/20, inspirada no Samaritano cheio de compaixão.
Santa Dulce dos Pobres, Zilda Arns e São
Geraldo são os samaritanos de hoje nos altares das igrejas. Achamos que o
grande mérito é do Samaritano chamado de bom. Mas, será mesmo? Não! Citamos, inclusive, os comportamentos
dos outros personagens. O centro dessa parábola, evidentemente, é a vítima
caída, judiada, espancada e machucada, expressão de tantos excluídos e
ignorados pelo sistema vigente, que transformou a vida de um dos três
personagens. O Levita e Sacerdote não se salvaram, porque foram incapazes de
sentir a compaixão nas mãos e a justiça bater no coração. O Samaritano deixou-se salvar pela vítima,
que o salvou.
A
salvação está fora de nós. Toda essa linha de auto-ajuda ou psicologismo não
salvam, porque é a própria pessoa tentando responder às suas angustias e
inquietações, ao invés de deixar seu coração aquietar-se em Deus, fora dela,
que oferece a salvação. A pobre vítima clamou ao Sacerdote, para que saísse da
consciência do dever cumprido. Recusou-se ir além do culto. Escolheu o outro
lado, que é o lado da perdição. A vítima aqui simboliza o diferente e
imprevisível que cruza nossos caminhos no dia a dia, diante da qual recusamos a
curvar-se por falta de humildade e compaixão. E o Levita, apegado a Talmud,
passou perto da vítima que queria convertê-lo, mas ele se recusou a
converter-se.
O
último a passar foi o mais simples dos três, o Samaritano, que viu acordar
dentro de si o maior de todos os tesouros da humanidade. O Levita e o Sacerdote
também tinham esse tesouro, mas guardaram todo para si. Esse tesouro que o
samaritano soube partilhar, mas nem sempre conseguimos despertar no outro, tem
seus mistérios e enigmas. O bem mais precioso que o Samaritano trazia e não
perdeu era a compaixão, juntamente com um pouco de azeite, vinho e duas moedas de
prata. Ele viu e sentiu compaixão. Ele viu a vítima e se aproximou, tornou-se
próximo.
Conclui-se
que precisamos nos aproximar mais das pessoas e do meio ambiente, descendo do
pedestal que estamos para interagir com as coisas e pessoas, no cuidado da casa
comum e defesa da vida. Precisamos aprender, também, a conviver com pessoas que
pensam diferente de nós, porque bons samaritanos estão em todos os lugares. E
um último aspecto bonito que sobra na vida do samaritano e também de Jesus é
que eles dizem que vão voltar de novo e se tiverem dívidas na hospedaria serão
pagas. Jesus sempre volta, nunca nos abandona.
Pe. José Geraldo de Souza, C.Ss.R.
(Reitor)
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