A Quaresma
só é bem entendida e vivida, quando de fato está ligada à Páscoa na visão
teológico-pastoral, especialmente, do Pe. José Bortolini. São os dias em que se
prolongam da Quarta-feira de Cinzas até a Quinta-feira Santa, antes da Missa da
Ceia do Senhor e Lava-pés. Ao todo esses 40 dias simbolizam os 40 dias que
Moisés ficou na Montanha; outros 40 dias de caminhada de Elias para chegar à
Montanha, além dos 40 dias de jejum de Jesus no deserto... O início e término quaresmal não é algo
estático e fixo, mas dinâmico e circular na dependência do calendário litúrgico
e civil, sob a influência do ciclo lunar e das estações do ano. Ou seja, Quaresma
é travessia do nada para o tudo, do sofrimento para a libertação, do pecado
para a graça, da morte para a ressurreição.
A Quaresma
na igreja tem ligação com outros acontecimentos naturais e sobrenaturais,
sobretudo a preparação dos catecúmenos ao batismo e às práticas penitenciais.
Por exemplo, já nos Séculos II e III promoviam-se alguns dias de penitência na
semana que antecedia a Páscoa. Enquanto no Século IV usava-se o termo
quarentena penitencial, como forma de se recolher em oração e silêncio para
escuta de Deus e vivência do Evangelho explicitado nas Bem-aventuranças.
Atualmente,
a Igreja incentiva apenas dois dias de penitências, para que os fiéis se
solidarizem com os sofrimentos de Cristo e dos Pobres, através da Quarta-feira de
Cinzas e Sexta-feira Santa, com o jejum e a abstinência de carne. Mas, por
algum motivo de saúde ou idade, se houver dificuldades em vivenciar essa
orientação religiosa, a CNBB diz que “a abstinência pode ser substituída pelos
próprios fiéis por outra prática de penitência, caridade ou piedade,
particularmente, pela participação nesses dias na Sagrada Liturgia”. Já as
cinzas que recebemos na cabeça, com apelo à conversão em reconhecimento da
nossa condição de fragilidade e pequenez, se inspiram nas tradições veterotestamentária
e neotestamentária, focadas nas figuras chaves de Abraão, a promessa de Deus (Gn
18,12), e de Jesus, a realização do Reino de Deus (Mc 1,15).
Enfim,
a quaresma é tempo forte de conversão do “eu” para o “nós”. Ela mistura nossos
amores em meio ao silêncio da boca e ruídos do coração, para que no outro lado
dessa travessia estejamos mais puros, transparentes e bonitos à luz do ressuscitado.
Ela nos ensina que a oração, penitência e caridade vão trabalhar nosso corpo,
alma e espírito, a exemplo do Bom-samaritano. Os recomeços sempre nos motivam a
nunca desistir dos ideais, porque Jesus sempre vem nos visitar e caminhar
conosco. Se, de fato, exercitarmos essa
unidade existencial, espiritual e social, ficaremos “sarados” de nossas dores e
feridas, porque diminuiremos a violência verbal ao próximo e assumiremos o meio
ambiente como nossa “Casa Comum”.
Pe.
José Geraldo de Souza, CSsR. (Reitor)
(Assessor Espiritual dos MLR)
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