Asas do Espírito, uma força amorosa
“No
mistério do sem-fim equilibra-se um planeta. E
no
planeta um jardim e no jardim um canteiro e no canteiro uma violeta e sobre ela
o dia inteiro entre o planeta e o sem-fim a asa de uma
borboleta”
(Cecília
Meireles)
O mistério do sem fim, coração do homem. Capaz de tamanhas
façanhas na amplidão infinita de céu e terra. Ah que se curvar, pelo caminho
afora, diante dos encantos mais variados e, muitas vezes, mãos postas, deixar
surgir alguma silenciosa prece. Acenos que se interpõem nos horizontes,
verdadeiros sinais da paz inquieta dos caminhantes. Uma flor de borboleta pode
dar asas ao coração e trazer, de perto ou de longe, inspirações alvissareiras.
Humano, de alma vazia, sem sonhos, não consegue alcançar respiro suficiente para
cruzar barreiras. Existência amarga daqueles que não sentem o gosto da poesia,
da arte, da música boa. Entre tantos estigmas, é possível colher do fundo da
gente, como mestra de outros, a sensibilidade sagrada de quem se encanta e por
isso louva e cuida dos divinos e graciosos dons. “Olhai os lírios do campo como
crescem: não trabalham nem tecem. Entretanto vos digo que nem Salomão, no auge
de sua glória, vestiu-se como um deles” (Mt 6, 28-29).
Sim!
Há os que se aperfeiçoam nas ciências capazes de incríveis aparatos técnicos. E
o que dizer dos gênios inventores ou descobridores dos mais sutis enigmas
naturais? Entretanto, um momento, por favor! O louvor de hoje vai para as
cálidas mãos ágeis, para os cansados pés de poeira, para as inquietas mentes que
projetam as mais bonitas construções amorosas. Não cuidam de objetos somente,
seu moço, mas sim de histórias. São os que insistem, mesmo contra correntes, na
construção de cenários solidários. Acolhem vidas,mais que máquinas; promovem
almas, mais que aparelhos. Exemplos? Como fio condutor de uma nova consciência
humana e cristã, as obras sociais, também as redentoristas, confeccionando um
verdadeiro tapete de solidariedade no duro chão dos necessitados. Espalhadas
pelas comunidades amparam, incentivam, promovem o que poderia ser apenas
silenciado pela violência dos insensíveis. Verdadeiro sopro que desperta os
dons; para além de números, vidas. Aliás, estatística tem esse defeito: não mede
amor fraterno, graças a Deus!
Aproveitando
a ocasião, um grande aplauso à colorida presença feminina nessas frentes de
cuidados humanos. Zelo, sensibilidade, lançando sempre o bom perfume no resgate
da dignidade do viver, e até mesmo descobrindo boas oportunidades de inserção
afetiva e social. Mães, mulheres, jovens ou adultas, instrumentos do Santo
Espírito, arejando a existência endurecida pelos indiferentes. Ganham novas asas
as crianças carentes, os jovens sem rumo, os velhos descuidados. Belas asas de
borboleta como brotos que largam seu casulo e felizes voam. Que maestria, não é
mesmo? Haveria maior recompensa para quem cuida, do que ver uma minúscula
criatura sair de sua pequenez e voar? Mais que isolados trabalhos, é bom de ver
uma rede fraterna se fortalecendo. E no final do dia poder dormir, ainda que
pecador, contagiados pela salvação do amor.
Antes
de terminar, um aviso, camarada! Sem essa de pensar que somente pode dar quem já
tem muito. Os que mais doam de verdade são aqueles que se descobriram, no chão
finito de si mesmos, que sem a graça que distribui os dons, nada poderiam, nem
mesmo viveriam. Veja o equilíbrio manso das asas de uma borboleta e tente
imitá-la. Certamente não conseguirá. No entanto, irá mais longe ainda se não
barrar o sopro do espírito que mora na casa de sua vida. Cuidado, porém, porque
Ele é sutil demais para os apressados, para os agitados, pretensiosos, cheios de
si. Somente habita a morada dos mansos, dos que guardam no peito o desejo de
Deus e o empenho pelo amor fraterno, grandes asas que equilibram as coisas
humanas entre seu pequeno planeta e o sem-fim.
Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R. - Superior
da Província Redentorista do Rio
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segunda-feira, 6 de maio de 2013
Asas do Espírito, uma força amorosa
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