Corria o ano de
1985. Foi o ano internacional da juventude. Foi quando brotou a ideia do
primeiro Dia Nacional da Juventude. Foi o ano do primeiro Rock in Rio. Ano em
que Tancredo Neves foi eleito e morreu, em que acabou o período do regime
militar e ano também em que eu morei no interior paulista.
Era um
pré-adolescente. Nossa vida era bem simples e cheia de dificuldades. Eu não
tinha dimensão daquilo. Sabia, no entanto, que tinha que estudar na escola da
vila e tinha que ajudar meu pai na roça nos finais de semana e nas
férias.
Na roça não havia
energia elétrica. Após um duro dia de trabalho, voltávamos cansados, tomávamos
banho frio, jantávamos, minha mãe puxava a oração do terço e depois escutávamos
algum programa de música caipira. Embora meu pai gostasse muito, era o tipo de
música que eu não costumava escutar quando morava na cidade.
Havia uma canção
que toda noite tocava naqueles programas. Era uma música interpretada pelo Trio
Parada Dura, chamada “As Andorinhas”. A letra era assim:
As andorinhas
voltaram / E eu também voltei / Pousar, no velho ninho / Que um dia aqui deixei
/ Nós somos andorinhas / Que vão e quem vem / À procura de amor, / Ás vezes
volta cansada, Ferida machucada / Mas volta pra casa batendo suas asas / Com
grande dor / Igual a andorinha / Eu parti sonhando / Mas foi tudo em vão /
Voltei sem felicidade / Porque, na verdade / Uma andorinha, voando sozinha / Não
faz verão
Não entendia o que
significava a expressão “Uma andorinha, voando sozinha não faz verão”. Não
obtive uma resposta imediata. A vida, porém, foi me ensinando aos poucos, com
erros e acertos da minha parte. Fui entendendo que por melhor que sejam as
pessoas, elas sozinhas não se bastam, ou seja, que todo mundo precisa de
alguém.
Nas nossas
relações percebemos que somos interdependentes. O intérprete e compositor
Gonzaguinha cantou uma verdade do relacionamento entre as pessoas: “Toda pessoa
sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas”.
Isso fazia sentido
para a coitada da andorinha. Ela não queria ser só. Poucos entre nós também
queremos ser. Mas e o tal do “fazer verão”?
Andorinhas são
pássaros migratórios. Não é incomum vê-las em regiões quentes e em bandos.
Quando o verão está chegando em alguns lugares, tal fato se torna rotineiro.
Contudo, se você encontrar uma andorinha sozinha, não significa que o verão está
chegando. Ela pode estar só ou voando perdida.
Você, no seu
grupo, coordenação pastoral ou na assessoria pode achar que o bendito do inverno
não vai passar. Talvez você tenha ficado para trás na “última onda migratória”
ou ter perdido o trem da história. Meu caro, minha amiga, isso acontece. Por
vezes, nos sentimos sós em nossos processos pastorais. Temos a chance de errar e
de aprender com nossos erros.
Talvez você creia
que o bendito inverno está durando muito. Talvez você queira partir agora e
tentar antecipar o verão. Tenha a serena paciência histórica. Perceba os sinais
dos tempos. Não há inverno que dure para sempre. Entenda as conjunturas. E ao
sentir os ventos da mudança convoque as outras andorinhas.
Para quem percebe
os sinais eu afirmo, as sementes do Reino que plantamos, logo começarão a
brotar, o inverno está acabando e logo começará a primavera. Acorde as outras
andorinhas. Ajude a despertar a juventude. Muitos querem acusá-los de
prolongadores do inverno. Não deixe que esta mentira se perpetue.
Não deixe que as
outras andorinhas, que os outros jovens acreditem na bobagem de que são
pequenos, de que são poucos e de que não adianta lutar porque nada vai mudar.
Aqueles que querem prolongar o inverno são os mesmos que morrem de medo das
andorinhas. Anunciem. Anunciem a aurora de um novo tempo. Anunciem o fim do
tempo das relações frias. Anunciem os campos floridos, cheios de vida, de amor e
de possibilidades.
Adianta lutar sim.
O calor da relação fraterna, do sol de verão que brilha sobre todos é a certeza
de que vale sim. Cada um tem seu papel importante. Cada um faz parte do bando. E
um bando de andorinhas voando, mostra que logo o verão já vem. Não desista. Seja
você a andorinha que ajudará a acordar a todos.
* Rogério
Oliveira - Blog "E por falar em pastoral.."
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